Um retrato

Não é possível fotografar o vento,  mas é possível registrar o efeito do vento…  Assim, pode-se  “visualizar” o vento, quando ele agita freneticamente os galhos de uma árvore.  O mesmo pode ser dito da gama de sentimentos que permeiam o dia a dia das pessoas: Não será possível fotografar o amor ou o ódio, mas o efeito causado por eles. É claro que, neste caso, também está presente  a subjetividade de quem vê determinado acontecimento.

Fiquei sete anos fotografando cenas que ocorriam sob a chuva, no meu caso isso sempre foi motivo de satisfação, como eu disse em outra postagem: “A chuva me traz uma impressão de silêncio, interno e externo e, para a fotografia, o silêncio é fundamental”. 

A foto que segue eu fiz em agosto de 2011, na cidade de Itanhaém, localizada no litoral sul do Estado de São Paulo. Evidente que as pessoas procuram as praias durante o verão, mas uma questão familiar me levou até esse local em um típico dia de inverno, com frio e chuva. Eu caminhava pela calçada sob a chuva fina quando vi a cena do outro lado da rua, saquei a câmera (a compacta que não sai da minha bolsa) e fiz essa foto. Achei que era um “retrato” da melancolia, as costas da pessoa me pareceram expressivas, o mar e o céu tempestuoso representam uma grande ameaça e a solidão se faz presente.  Porém, se o leitor observar atentamente, verá que uma tênue luz (o sol) está eclipsada pelo rosto da personagem, indicando que eu talvez esteja totalmente enganado: é possível que seja o retrato de uma pessoa que observa o sol vencendo a tempestade e voltando a brilhar.    

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