No começo dos anos noventa do século XX despertei o meu interesse pela fotografia. Eu ganhei de presente uma câmera com visor direto e foco fixo, uma compacta totalmente automática. Foi me dada com grande carinho, e talvez, por esse motivo, desenvolvi rapidamente um grande interesse por ela. Fiz muitos filmes, e mesmo sem ter grande participação nos resultados (visto todo o automatismo) o meu caminho foi aberto para as primeiras leituras nos velhos livros de fotografia. O analógico carrega em si um ritual. É necessário comprar um filme, colocá-lo na máquina (o procedimento pode variar conforme o filme e a máquina) e dedicar-se a expor aquele sempre limitado número de fotogramas. Ao final do processo, que pode levar uma hora, um dia, uma semana ou um ano (lembrando que alguns filmes ainda hoje padecem totalmente esquecidos dentro de velhas câmeras) é necessário o processamento. O ritual completo requer uma qualidade rara: o cada vez mais distante controle da ansiedade, potencializado pela consciência de que o resultado é incerto, visto que qualquer falha pode comprometer, de maneira definitiva, o resultado. Em 1996 eu resolvi frequentar uma escola: A “Escola Paulista de Fotografia” do mestre chileno Gustavo González. Ali eu aprendi a lição que considero definitiva: a justificativa cromática. O professor Gustavo dizia que uma foto só deve ser colorida se a cor exercer papel fundamental no resultado, caso contrário, é melhor que seja P&B. Ou seja, as cores podem ser motivo de distração, o que realmente é interessante em uma foto pode ser mais “real” através das formas e texturas do preto e branco. Portanto, para mim e para muitos outros fotógrafos, o P&B é um caminho para a emoção. Felizmente, me restaram algumas poucas câmeras analógicas, dentre eles essa maravilha: Yashica TLR EM, lançada no Japão em 1964. Não requer absolutamente nenhuma bateria, todos os controles são manuais, tudo na ponta dos dedos.
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